segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Durkheim – uma teoria da integração social

Além da teoria do fato social com a qual a sociologia alcança um status científico próprio, Emile Durkheim ajudou a compreender o funcionamento da sociedade capitalista a partir do estudo sobre a divisão do trabalho social.

Segundo Durkheim a integração da sociedade acontece através de diferentes mecanismos de solidariedade social que mudariam conforme a intensidade da divisão do trabalho social.

A divisão do trabalho social seria então a chave para a compreensão do tipo de sociedade. Haveria uma relação inversa entre a intensidade da divisão do trabalho e a coesão social, ou seja quanto maior a divisão do trabalho mais fluida a coesão social, e, inversamente, quanto menor a divisão do trabalho maior e mais intensa a coesão social.

Dizer que a sociedade é mais ou menos coesa é retomar a teoria do fato social e perceber se ele é capaz de impor o poder coercitivo de modo mais ou menos intenso.

 

Divisão do Trabalho

Qualquer sociedade humana deve aplicar algua modalidade de divisão do trabalho. Os modos mais simples de divisão do trabalho são aqueles que se baseiam em características biológicas, comoa divisão sexual do trabalho. Neste tipo de divisão os homens assumem determinadas tarefas como a caça, pesca e defesa do grupo contra invasões de outros grupos e as mulheres realizam atividades como o cuidado com as crianças e a vida doméstica.

Entretanto, a divisão do trabalho pode alcançar níveis mais intensos como o que conhecemos em nosso tipo de sociedade, que funciona com uma economia de mercado. Neste caso os indivíduos se restringem a um reduzido número de atividades dependendo em tudo o mais dos demais indivíduos, com o agravante de que o capitalismo também proporciona um aumento da necessidade, pois tudo pode se transformar em mercadoria (veja aula sobre economia de mercado)

 

Solidariedade mecânica.

Nas sociedade onde a divisão do trabalho é menos desenvolvida as pessoas se integram em grupos baseados na similitude, ou seja pela semelhança. Exemplos dede sociedades assim podem indicados nas sociedades tribis, indígenas ou não.

Nestes grupos as regras, os fatos sociais se impõem ao individuo com bastante força e não há espaço para grande variedade social.

Este tipo de sociedade é abastante coesa e,  no limite, nas condições de divisão do trabalho mais limitado, o indivíduo é limitado em sua liberdade de um modo em que, do nosso ponto de vista, só pode ser reconhecido como tirânico.

 

Solidariedade Orgânica

O processo de intensificação da divisão do trabalho social  similitude ou semelhança deixa de ser o critério para  integração da sociedade e então iniciamos um novo tipo de sociedade, baseada nma solidariedade orgânica.

Já indicamos o fundamento desta nova sociedade quando lembramos, acima, que nosso tipo de sociedade funciona com uma economia de mercado. Nestas condições cada indivíduo se especializa em poucas ou mesmo em uma única atividade e tem suas necessidades de outras atividades atendidas por outras pessoas. Esta situação cria uma condição objetiva de dependência entre todos. Esta situação é, portanto orgânica, intrínseca ao funcionamento da economia de mercado, que é um estágio adiantado da divisão do trabalho.

Neste tipo de sociedade a solidariedade social orgânica se constrói a partir da interdependência que funciona através da individualização dos indivíduos a partir da especialização funcional (profissional) no contexto da divisão do trabalho social.

Na medida em que é a individualidade, a particularidade que serve de fundamento do cimento social, este tipo de sociedade permite uma liberdade muito mario para o individuo.

Retomando a teoria do fato social podemos dizer que nestas condições a sociedade tem uma capacidade de aplicar o poder de coerção dos fatos sociais sobre os indivíduos que, através dos mecanismos de uma economia de mercado, podem enconrar mecanismos de defesa contra as pressões sociais.

 

Anomia

Durkheim viveu entre 1858 e 1918. Acompanhou portanto os desafios típicos das cidades que se modernizavam no século XIX. Conforme vimos no filme “Daens - um grito de justiça” este era um cenário de muitos problemas sociais. O trabalho de Durkheim sobre a solidariedade social também faz considerações sobre esta questão.

Segundo ele as sociedades podem experimentar períodos de crise, de anomia social. É um perido temporário no qual a sociedade experimenta transformações intensas e rápidas. Isto trás uma consequência para a integração moral da sociedade (os fatos sociais).

Nestas condições a sociedade pode não ser capaz de consolidar os critérios morais (os fatos sociais) adequados para a nova situação. Ao mesmo tempo os fatos sociais típicos do período anterio não servem para a nova realidade.

Esta situação provoca um desgaste na integração da sociedade. Para o indivíduo significa uma experiênca de desorientação moral.

O avanço da sociedade brasileira sobre os territórios indígenas, especialmente a partir dos anos 60, com a construção de Brasília e as obras de integração rodoviária no norte do país. Este processo significou a destruição material das sociedades indígenas e a partir daí das suas bases morais. Considere, por exemplo, os aspectos religiosos. Em sua sociedade o índio conhecia uma série de deuses (ou espíritos) com os quais sabia lidar e aos quais atribuía um valor positivo. Todavia, agora,vivendo com a sociedade brasileira, com os brancos, sua crenças religiosas são apreciadas de modo negativo.

Esta e outras questões indicam o estado de anomia social que se abateu sobreos indígenas e que se expressava de modo mais trágico através de elevadas taxas de suicídio.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Os três porquinhos: Durkheim




Vimos que Augusto Comte criou a palavra “sociologia”. Em sala vimos também que em função disso se dizia que Comte era o fundador da sociologia. As coisas não são exatamente assim. Embora tenha sua importância na história da disciplina, muito mais por conta da doutrina positivista do que em função de criar o nome da disciplina, Comte não é o responsável pelo início da sociologia moderna.





Primeira questão: o que é e o que não é a sociologia

A origem da moderna sociologia é atribuída a outro francês: Emile Durkheim. Para entender porque Durkheim recebeu esta honraria devemos nos perguntar qual a definição mais comum de sociologia? A resposta mais comum indica que se trata da ciência que estuda a sociedade.

Esta é uma resposta correta, porém não é uma resposta exata. Quer dizer, embora a sociologia efetivamente estude a sociedade ela não estuda exatamente a sociedade. Vejamos o que isto quer dizer.

Eu fico doente em sociedade, e também executo uma série de atividades econômicas em sociedade. Diante da definição mais comum de sociologia deveríamos aceitar que ela  também estudaria os processos de enfermidade e as atividades econômicas.

Todavia existem outras ciências que tratam com mais propriedade destes fenômenos. Então , como vamos separar o que é a sociologia do que é a economia ou a medicina (ou o direito, etc.)? Este é o grande legado de Durkheim. Sua obra ele definiu o que seria o objeto de estudo específico da sociologia.

Emile Durkheim (1858-1918)

Admite-se que a sociedade envolve um conjunto de fenômenos sociais. Porém a sociologia desenvolveria sua competência estudando apenas uma pequena quantidade destes fenômenos que seriam chamados de fatos sociais.

Os fatos sociais seriam um conjunto de fenômenos sociais identificados e separados dos demais porque apresentariam algumas características especiais.


Características dos fatos sociais

São três os elementos que definem se um fenômeno social é um fato social.

Em primeiro lugar o sociólogo deve buscar observar se se trata de um fenômeno geral. Um fato social tem como sua primeira característica o fato de que é praticado pela totalidade ou pela maioria dos indivíduos de um grupo.

Além de ser geral é necessário observar de onde surge aquele fenômeno, ou seja, se é um comportamento que indica uma escolha individual ou se é um fenômeno cujas origens e razão de existir se devem a sociedade. Isto por que, para Durkheim, os fatos sociais se distinguem também pelo fato de que são anteriores a existência do indivíduo. Sendo anterior ele também será exterior ao indivíduo. Isto quer dizer que a marca do fato social é sua origem coletiva, social.

Finalmente, os fatos sociais exercem um poder de coerção sobre o indivíduo. Os fatos sociais devem ser vistos como regras. Quando o indivíduo se afasta destas regras ele recebe uma pressão coletiva para que volte a se ajustar ao comportamento socialmente aprovado. Esta pressão é uma evidência do poder de coerção (de pressão) que a sociedade exerce sobre os indivíduos para que se submetam a regra geral.



Exemplo

O nosso vestuário pode ser usado para considerarmos como opera o fato social. Nos vestimos segundo padrões ou regras que são sociais, são fatos sociais.

Em primeiro lugar podemos reconhecer que a maioria das pessoas se veste segundo um padrão ou segundo um conjunto de padrões, de regras. Existem regras que determinam um padrão masculino e um padrão feminino, por exemplo.

Considere na imagem abaixo como a multidão que comparece a Rua Grande, em São Luís, revela claramente a adesão das pessoas a esta regra.

I

Além disso, o padrão de vestuário que adotamos em nossa sociedade não é obra de nenhum de nós individualmente. A escolha sobre o que é adequado vestir é determina pela sociedade, ainda que tenhamos alguma variedade. Ou seja, o vestuário apresenta a segunda característica do fato social, ele existe antes do indivíduo e é externo ao indivíduo. Esta é a razão por exemplo, de não nos vestirmos como o He man.


O fato social, porém é uma regra especial, trata-se sempre de um fenômenos moral. Considere por exemplo o tipo de reação que aquele rapaz acima, vestido de He man, iria despertar caso ele estudasse em sua escola e quisesse assistir aula usando aquela vestimenta.

Provavelmente iria despertar uma série de olhares atravessados e principalmente iria ser alvo de muitas risadas. Do ponto de vista da teoria dos fatos sociais estas reações são uma manifestação da sociedade diante de uma regra (um fato social) sendo quebrada. Devem ser entendidos como uma ação coercitiva (punitiva) da sociedade, uma coerção moral.

O ridículo é um recado indicando que o individuo rebelde assumiu uma atitude tão diferente das nossas regras (o fato social) que desperta uma reprovação moral na forma de risadas e olhares atravessados.

Não é demais repetir que o fato social é sempre moral, assim como a coerção que mobiliza quando é desobedecido. Mesmo quando se pune com violência, como no caso de alguém que é linchado porque cometeu um roubou ou um assassinato, ainda assim esta violência é principalmente moral.

Agora, para ter uma idéia de como funciona este poder de coerção do fato social vamos considera o seguinte.




Imagine que você em sua família uma senhora de certa idade, uns sessenta anos por exemplo. Considere que esta senhora de sua família vai sair para o supermercado ou para a feira comprar alguma coisa. para chegar ao ponto, imagine que ela vai sair para a rua usando a mesma roupa que a senhora abaixo está usando.



Sabendo que há um padrão social (um fato social) que determina as regras de vestimenta também segundo as idades e que a senhora acima está fuginda a este padrão, podemos esperar determinadas reações a atitude da senhora.

Entretanto considere a sua reação. O que você faria?




Provávelmente você iria se sentir atingido pela atitude desta senhora de sua família. Mas você iria se sentir atingido de uma maneira diferente das demais pessoas que estarão na feira ou no supermercado. Você vai se sentir, provavelmente, envergonhado – pois o fato social é sempre moral.

Talvez você venha mesmo a agir fisicamente para impedir a destemida senhora.

Este seu comportamento, mas principalmente a sensação de vergonha que você experimenta, são reflexo do poder de coerção dos fatos sociais.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Economia de Mercado.



Mercado é uma instituição social que realiza a coordenação das trocas entre os indivíduos. O mercado reúne, de um lado, nossas habilidades e, de outro, nossas necessidades.

Funciona assim: cada um de nós possui certas capacidades. Somos eletricistas, advogados, vendedores, pintores, médicos, etc. Porém necessitamos de uma grande quantidade de serviços e produtos durante um único dia em nossas vidas.

Perceba a quantidade de coisa que está diante de você enquanto lê este texto. Imagino que tenha mesa, esta mesa deve ter recebido camadas de produtos e serviços como lixa, polimento, pintura. As roupas que está usando reúnem uma série de outros produtos como a fabricação do tecido, o desenho da roupa, a costura, a tintura, etc.

Tanto a reunião dos elementos que resultaram na fabricação da mesa quanto da roupa incluíram também certa quantidade de pessoas que transportaram produtos para fabricar cada um dos instrumentos usados para produzir sua mesa e roupas. E a coisa se repete: as transportadoras usaram outra série de produtos de terceiros.

Este é o princípio do da economia de mercado: cada um de nós oferece uma habilidade ou uma propriedade e em troca atende suas necessidades.

É importante ficar atento para uma conseqüência especial: numa economia de mercado as relações que temos se dão através de mercadorias.

Mercadorias são as coisas que levamos ao mercado sejam elas habilidades (de pintar ou cantar, por exemplo) ou propriedades (como os itens de uma loja, por exemplo) e também aquilo que corresponde as nossas necessidades e que será oferecido pelos outros.

Numa economia de mercado o dinheiro também é uma mercadoria, a mais especial de todas. Antes da invenção do dinheiro as pessoas precisavam encontrar exatamente um companheiro de trocas que ao mesmo tempo quisesse o que elas ofereciam e possuir precisamente o produto ou habilidade que interessava. A existência do dinheiro torna cada um de nós um mediador para os demais.



Perigos

A existência da economia de mercado faz do capitalismo um sistema de altíssima capacidade de eficiência e expansão. Por outro lado, é exatamente este o maior problema de uma economia de mercado.

Já vimos que a propriedade privada, na medida em que cria o lucro (e também o salário), oferece um grande estimulo ao capitalista para que ele inove continuamente a produção de riqueza da sociedade e partir daí dê início a transformações em todas as dimensões da sociedade.

Este estímulo faz com que na economia de mercado tudo, absolutamente tudo, possa se converter numa mercadoria. Vejamos um exemplo. Imaginemos que você seja queira dizer a uma pessoa que você a ama. Infelizmente, porém, você entende que não é capaz de dizer o tanto que você ama. Talvez porque você é uma pessoa tímida. Talvez porque você ama demais e simplesmente não consegue dar a dimensão de tanto amor.

Numa sociedade capitalista isto não é um problema, ao menos a princípio (já, já vamos dizer porque). Em nossa sociedade há empresários que perceberam que podem alcançar aquele lucro que está no coração do capitalismo atendendo exatamente esta necessidade, que você tem (hipoteticamente falando).

Deste modo se você quer dizer a uma pessoa que a ama e acha que não consegue, não se preocupe, o mercado transforma isto numa mercadoria que você pode comprar, seja com uma telemensagem, seja com um telegrama ao vivo.


 








A questão, porém, é que esta capacidade da economia de mercado em transformar tudo em mercadoria transforma a nós mesmos, os seres humanos, em mercadorias.

Considere o exemplo da malharia que propomos quando falamos da propriedade privada. Na ocasião consideramos uma empresa que tinha um proprietário e dez trabalhadores.

O proprietário atende suas necessidades via mercado oferecendo um produto, malhas. Os trabalhadores, entretanto, só têm a oferecer ao mercado a sua força de trabalho. Por isso se diz que existe um mercado de trabalho no qual se compra e vende força de trabalho, capacidade de trabalho, habilidades profissionais.

Raciocinando com nossa malharia hipotética podemos considerar que dos 10 trabalhadores empregados um deles seja designe e outro dos dez seja um zelador. Você pode imaginar que estes dois trabalhadores oferecem habilidades diferentes e por isso eles são mercadorias diferentes. Isto quer dizer que eles, suas habilidades, tem valores diferentes, são premiados com salários diferentes, e muito provavelmente esta diferença será bastante considerável.

Em conseqüência disso estes dois trabalhadores terão capacidades também diferentes de atender suas necessidades quando se apresentarem no mercado como compradores. Ou seja, há uma grande probabilidade de estes dois trabalhadores não se reencontrarem fora do trabalho. É razoável imaginar que eles morem em bairros diferentes, que usem hospitais diferentes, que seus filhos estudem em escolas diferentes, que usem roupas diferentes, etc.

Num mundo em que tudo pode se transformar em mercadoria isto é claramente um problema.

Você pode explicar o por quê?

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Propriedade Privada

Qualquer que seja a nossa posição política, ou seja, se somos de Direita ou de Esquerda, o que quer dizer: se gostamos ou não do capitalismo; se quisermos definir o que seja este sistema social vamos indicar que ele necessariamente inclui dois elementos fundamentais: a existência da propriedade privada e de uma economia de mercado.

 

Propriedade privada

Quando falamos de propriedade privada estaremos nos referindo á propriedade privada dos meios de produção.

Toda sociedade precisa em primeiro lugar garantir sua existência material. Por isso, o domínio sobre os meios pelos quais se produz as bases materiais da sociedade, sua riqueza, são importante e conferem grande poder.

Uma das principais características do capitalismo é que os instrumentos, os meios, que permitem a existência material da sociedade é apropriado por indivíduos, e por isso se diz que é uma propriedade privada – Outros sistemas sociais podem apresentar uma propriedade coletiva.

Estes indivíduos que tem a propriedade dos meios de produção participam de uma classe social específica, a classe dos capitalistas, a burguesia. A existência da propriedade privada é que dá origem ao poder da burguesia.

 

Exemplo

Como dissemos, no capitalismo a existência material da sociedade é organizada a partir da propiedade privada dos meios de produção. A existência da propriedade privada terá grandes consequências quanto a riqueza produzida. Vejamos um exemplo.

Num sistema capitalista é muito provável que as coisas que você precisa, como o seu uniforme da escola, é produzido por uma empresa que um indivíduo, um empresário, ou um grupo, organizou sabendo que em nossa sociedade há pessoas que precisam de uniformes escolares.

Vamos considerar mais de perto esta empresa de malharia que produz nossos uniformes. Imaginemos que esta empresa possui dez trabalhadores e que tenha apenas um proprietário.

Digamos então que esta malharia tem um faturamento mensal de R$50.000,00.

A principal consequência da propriedade privada diz respeito ao que acontece com este valor criado na empresa. Ou seja, a propriedade privada cria canais de distribuição da riqueza gerada pela sociedade.

Imaginemos  que a riqueza mensal gerada por nossa empresa siga os destinos abaixo:

Riqueza Gerada:

R$50.000,00
Gastos Em Geral (impostos, energia, investimetos, manutenção, etc.) R$30.000,00
Salários dos 10 trabalhadores: R$7.000,00
Lucro: R$13.000,00

Observando a tabela acima podemos considerar o seguinte: os gastos de nossa malharia serão parte da riqueza gerada por outras empresas. Deste modo, para vermos o efeito da propriedade privada para a sociedade como um todo, podemos desconsiderar a linha “gastos em geral” na tabela acima e seguir raciocinando apenas com as linhas “Salário” e “Lucro”.

A propriedade privada, então, é a origem do lucro e do salário. Quando estudamos sobre a modernidade já havíamos indicado a existência de um conflito social típico da modernidade: o conflito entre capital (que é o lucro) e trabalho (que é o salário).

Este conflito entre capital e trabalho (lucro x salário) diz respeito ao modo como será realizada a distribuição da riqueza gerada, ou seja, cada lado da questão deseja aumentar a sua parte e só conseguirá isto diminuindo a parte do outro.

Como o capitalismo é um sistema organizado pela burguesia, os trabalhadores tem menos força para aumentar a sua parte.

 

O lucro

Assim como o salário, o lucro é uma consequênca da propriedade privada. Por outro lado o lucro produz algumas consequências para a organização da sociedade.

O lucro é a motivação do empresário capitalista. A nossa malharia hipotética só existe porque o nosso empresário hipotético identificou que havia uma oportunidade de alcançar um lucro com aquele negócio, do contrário ele jamais arriscaria os recursos dele no negócio.

É em busca do lucro que este empresário irá introduzir inovações tecnológicas que vão melhorar a qualidade e diminuir o preço das malhas.

Ou seja, o lucro é o estímulo que leva os capitalistas a liderarem um processo de modificações que começa na produção e que se espalha para toda a sociedade.

Isto pode ser observado comparando a enorme quantidade de transformações sociais que aconteceram nas últimas décadas a partir de inovações que se generalizam a partir das empresas.

Direita e Esquerda

O tema do capitalismo deve ser estudo sabendo que se trata de um tema que envolve as mais vivas paixões políticas. Era assim antes e ainda é assim hoje!! Para termos uma idéia disto precisamos levar em contra de como são classificadas as idéias políticas.

Desde a Revolução Francesa se usa as palavras “Direita” e “Esquerda” para se referir as posições políticas. Este hábito se deve ao mais absoluto acaso.

A Revolução Francesa é a passagem definitiva da sociedade feudal para o capitalismo. Suas origens se devem a uma grave crise social. Para resolvê-la o Rei convocou os Estados Gerais, um instrumento para a tomada de decisões políticas envolvendo os estamentos feudais (ou Estados): a nobreza (Primeiro Estado), o clero (Segundo Estado) e os demais (Terceiro Estado).

A idéia do Rei era resolver os problemas com um aumento de impostos. Esta solução tinha conseqüências claramente impopulares. Isto porque os dois primeiros Estados eram isentos de impostos. Logo, o peso cairia exlclusivamente sobre o Terceiro Estado.

Posta a questão, surgiu um problema: como seriam contados os votos? Se fosse um voto por estamentos a proposta seria aprovada por dois a um, pois o primeiro e o segundo estado votariam juntos. O Terceiro Estado queria contar os votos por indivíduos, o que garantiria a recusa da proposta.

O clima de agitação tomou conta de Paris e de toda a França. Revoltas impuseram ao Rei a convocação de uma Assembléia Nacional, reprensentando o povo da França e não mais os estamentos medievais.

Na reunião dos delegados da Assembléia, os partidários das transformações da sociedade, com a abolição dos privilégios feudais se sentaram a esquerda é os defensores do status quo, da ordem vigente, ficaram a direita.

Foi assim que estas palavras foram adotadas para identificar as posturas políticas no mundo ocidental, chamando de esquerda indivíduos que desejam transformações imediatas da sociedade e de direita os indivíduos que entendem as mudanças devem ser lentas e que a ordem vigente deve ser preservada e evoluir naturalmente, sem revoluções.

 

Versão Clássica

Ao longo do século XIX, com a vitória da burguesia, a oposição entre Direita e Esquerda ganha uma marcação de origem européia e que se tornou uma versão clássica.

Nesta versão a Direita política inclui os defensores da sociedade capitalista. Os defensores do socialismo ocupam o espaço da Esquerda politica.

Esta diferença entre Capitalismo e Socialismo como marcos da divisão entre Direita e Esquerda é na verdade resultado de um entendimeto sobre o que é a Democracia.

Pensados em si mesmo, Capitalismo e Socialismo representam sistemas de organização da sociedade que divergem fundamentalmente sobre como instituir a distribuição da riqueza.

A partir deste critério a Direita sustenta que o valor fundamental, que define a democracia, diz respeito a garantia da liberdade sobre os demais aspectos. A Esquerda, por seu lado, ensina que não pode ser defino como democrática uma sociedade que não garante a igualdade real e efetiva dos seus membros.

Reconhecer este dilema serve mais nos ensinar que tanto a Direita como a Esquerda oferem argumentos razoáveis a partir dos quais é legítimo defender uma posição ou outra.

 

 

Versão Americanizada

Recentemente a oposição entre Direita e Esquerda vem se modificando, embora não tenha sido abolido o critério clássico descrito acima.

Nos últimos anos, desde a queda do muro de Berlim, em 1989, o mundo todo se acomodou sob o sistema capitalista. Atualmente Cuba, Laos, Coréia do Norte poderiam ser definidos como sistemas sem traços de capitalismo. A China, embora tenha um regime que se define comunista, na prática, entretanto, é uma combinação de economia de mercado e de ditadura.

A falta de uma alternativa concreta ao capitalismo representou certa amenização da versão clássica de separação entre Direita e Esquerda. Em seu lugar, em vários lugares do mundo tem se repetido um tipo de disputa política a partir do padrão típicamente americano, o país do capitalismo, onde nunca hourve grupos socialistas fortes.

Embora também apresentem diferenças sobre como encaminhar políticas sociais e econômicas, nos Estados Unidos a Direita (representado pelo Partido Republicano) e a Esquerda (Partido Democrata) se dividem principalmente sobre questões relacionadas as costumes.

O chamado debate sobre os costumes envolve questões como o casamento gay, politica sobre aborto ou bioética.

Em 2010, pela primeira vez o debate sobre os costumes tomou conta de uma eleiçao presidencial com uma discussão sobre a regulamentação do aborto.

Em relação a este tema, e os demais temas que mobilizam o debate sobre os costumes,  os indivíduos e grupos não se dividem como capitalistas e socialistas, como era na versão clássica da oposição Direita/Esquerda. Os debates sobre os costumes classifica as posições políticas em Conservadores e Progressistas.

Conservadores são os indivíduos que entendem ser necessária a defesa de um conjuntode valores básicos, entre os quais a defesa da vida, no caso do tema do aborto.

Progressistas, por sua vez, entendem que os costumes se alteram ao longo da história e que alguns dos costumes restringem a liberdade e o direito de certos grupos e que, por isso mesmo, podem e devem ser modificados.

A história da sociologia no início do capitalismo moderno


Capitalismo e sociologia

O mundo moderno é o mundo criado pelo capitalismo. O nascimento do mundo moderno, que vimos na segunda unidade, através do desenvolvimento e também da mistura de urbanização e de industrialização e mais individualização e secularização foi uma condição para o surgimento da sociologia.
A idéia de uma ciência para estudar a sociedade já existia, mas ela só se estabelece na prática com a sociedade moderna. Mais até que isto: a sociologia nasce como um instrumento para lidar com o mundo moderno.
Para reconhecer isto basta lembrarmos qual a definição mais comum do que seria a sociologia: seria o estudo da sociedade. Neste caso isto quer dizer que seria a ciência que ajudaria a entendermos como funciona a sociedade.
Conforme vimos no filme Daens – um Grito de Justiça, no século XIX o mundo moderno se estabelecia. Porém isso acontecia de um modo assustador, através dos chamados problemas sociais, mesmo nas nações mais ricas.

Cartaz do Filme “Daens – um grito de justiça”

A sociologia ajudaria a compreender porque a sociedade passava por este momento. Na verdade esta ciência da sociedade faria mais que isto, ela seria semelhante a instrumento de conserto, que ajudaria a resolver os problemas sociais: iria esclarecer como funciona a sociedade e indicaria o que deveria ser feito para que as coisas funcionassem corretamente.
Hoje em dia ainda alimentamos esta mesma crença na ciência, na sua capacidade de resolver nossos problemas. A sociologia, porém, já não se pensa e nem é reconhecida da mesma forma.
Esta crença na ciência que está na história da sociologia tem um representante especial em um francês chamado Augusto Comte.

Augusto comte (1798 – 1857)

Comte criou a teoria que é a principal corrente de pensamento que entende a ciência como um instrumento capaz de mudar nosso mundo. Esta teoria, ou doutrina, foi o positivismo.
O positivismo foi uma doutrina filosófica que dizia que seríamos capazes de criar um conhecimento verdadeiro, independente de nossas características individuais. Existem implicações desta maneira de conceber a ciência, mas não trataremos delas aqui. Apenas deixamos registrado que esta idéia, de que é possível um conhecimento verdadeiro (positivo, como se dizia na época), é fundamental para que se possa esperar que uma ciência da sociedade possa responder aos problemas sociais que nasciam com a sociedade moderna.
Além de ser o principal representante deste espírito da época que esperava da ciência uma resposta para os problemas do mundo moderno, Comte também é lembrado na história da sociologia por outro motivo, foi ele quem criou a palavra sociologia.


O positivismo no Brasil.
A doutrina positivista que participa do nascimento da sociologia teve uma grande importância política, especialmente na América Latina. No caso do Brasil, os grandes eventos políticos da segunda metade do século XIX, o movimento abolicionista e o movimento republicano, eram liderados por positivistas.
Os positivistas fizeram outros tipos de intervenções na história do Brasil. Por exemplo, o engenheiro Raimundo Teixeira Mendes, um maranhense da cidade de Caxias e sobrinho do poeta Gonçalves Dias, um positivista, foi quem apresentou ao recém estabelecido governo republicano um projeto que alterava a bandeira brasileira.
A bandeira criada por Teixeira Mendes trás a marca do positivismo com uma adaptação do lema política de Augusto Comte que era: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”.
Nossa bandeira ficou com o já conhecido “Ordem e Progresso”, mas sem o amor...


Busto de Teixeira Mendes (1855 – 1927)
Mais informações na Wikipédia

Outra herança dos positivistas na forma como entendemos nossa história diz respeito ao grande mártir brasileiro, o Tiradentes.
Em dado momento Comte resolve que o positivismo deve também se converter numa religião. Nesta fase ele faz uma adaptação de um instrumento bastante comum entre os católicos que é o de guardar a memória de certos indivíduos cuja devoção a Deus e também cujas demonstração de fé são relevantes e significativas para a Igreja, estes indivíduos são os santos.
Comte pretende fazer algo semelhante a canonização dos santos. Sua idéia é que a Igreja do Apostolado Positivista possa promover a memória dos grandes nomes da humanidade, de indivíduos que contribuíram para o bem comum ao longo da história.
No caso do Brasil, com o movimento republicano, este hábito positivista vai recriar a imagem de Tiradentes. Até então Joaquim José da Silva Xavier era um ilustre desconhecido e por motivos razoáveis.
O crime que o condena, no ano de 1792, é o crime de lesa-majestade. Este é o nome dado ao crime que se comete contra a pessoa do Rei/Rainha, que no caso era a Rainha de Portugal D Maria I. Esta Rainha foi a mãe e D. João VI e assim avó de D. Pedro I e bisavó de D. Pedro II. Sabendo que são os descendentes de D Maria quem lideram a independência do Brasil compreende-se por que Tiradentes não é lembrado pela história do Brasil durante todo o Império.
Foram os positivistas que “ressuscitaram” Tiradentes. Em sua versão positivista ele é apresentado com um cidadão exemplar cuja coragem de lutar contra os opressores e seu  destemor em morrer pela liberdade é destacada.
Estes atributos podem ser reconhecidos inclusive nas imagens que temos dele.  Abaixo vemos duas imagens famosas de Tiradentes.

Martírio de Tiradentes, óleo sobre tela de Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo (1854 — 1916).
Fonte: wikipédia

Óleo sobre tela de Leopoldino de Faria (1836-1911)
retratando a Resposta de Tiradentes à comutação da pena de morte dos Inconfidentes.
Fonte: Wikipédia


Percebe ambas as imagens apresentam Tiradentes associando-o a grandes nomes da cultura ocidental. No primeiro quadro ele se parece com Jesus. No segundo fica retratado numa cena que lembra as descrições do julgamento do filósofo grego Sócrates.

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