quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Economia de Mercado.



Mercado é uma instituição social que realiza a coordenação das trocas entre os indivíduos. O mercado reúne, de um lado, nossas habilidades e, de outro, nossas necessidades.

Funciona assim: cada um de nós possui certas capacidades. Somos eletricistas, advogados, vendedores, pintores, médicos, etc. Porém necessitamos de uma grande quantidade de serviços e produtos durante um único dia em nossas vidas.

Perceba a quantidade de coisa que está diante de você enquanto lê este texto. Imagino que tenha mesa, esta mesa deve ter recebido camadas de produtos e serviços como lixa, polimento, pintura. As roupas que está usando reúnem uma série de outros produtos como a fabricação do tecido, o desenho da roupa, a costura, a tintura, etc.

Tanto a reunião dos elementos que resultaram na fabricação da mesa quanto da roupa incluíram também certa quantidade de pessoas que transportaram produtos para fabricar cada um dos instrumentos usados para produzir sua mesa e roupas. E a coisa se repete: as transportadoras usaram outra série de produtos de terceiros.

Este é o princípio do da economia de mercado: cada um de nós oferece uma habilidade ou uma propriedade e em troca atende suas necessidades.

É importante ficar atento para uma conseqüência especial: numa economia de mercado as relações que temos se dão através de mercadorias.

Mercadorias são as coisas que levamos ao mercado sejam elas habilidades (de pintar ou cantar, por exemplo) ou propriedades (como os itens de uma loja, por exemplo) e também aquilo que corresponde as nossas necessidades e que será oferecido pelos outros.

Numa economia de mercado o dinheiro também é uma mercadoria, a mais especial de todas. Antes da invenção do dinheiro as pessoas precisavam encontrar exatamente um companheiro de trocas que ao mesmo tempo quisesse o que elas ofereciam e possuir precisamente o produto ou habilidade que interessava. A existência do dinheiro torna cada um de nós um mediador para os demais.



Perigos

A existência da economia de mercado faz do capitalismo um sistema de altíssima capacidade de eficiência e expansão. Por outro lado, é exatamente este o maior problema de uma economia de mercado.

Já vimos que a propriedade privada, na medida em que cria o lucro (e também o salário), oferece um grande estimulo ao capitalista para que ele inove continuamente a produção de riqueza da sociedade e partir daí dê início a transformações em todas as dimensões da sociedade.

Este estímulo faz com que na economia de mercado tudo, absolutamente tudo, possa se converter numa mercadoria. Vejamos um exemplo. Imaginemos que você seja queira dizer a uma pessoa que você a ama. Infelizmente, porém, você entende que não é capaz de dizer o tanto que você ama. Talvez porque você é uma pessoa tímida. Talvez porque você ama demais e simplesmente não consegue dar a dimensão de tanto amor.

Numa sociedade capitalista isto não é um problema, ao menos a princípio (já, já vamos dizer porque). Em nossa sociedade há empresários que perceberam que podem alcançar aquele lucro que está no coração do capitalismo atendendo exatamente esta necessidade, que você tem (hipoteticamente falando).

Deste modo se você quer dizer a uma pessoa que a ama e acha que não consegue, não se preocupe, o mercado transforma isto numa mercadoria que você pode comprar, seja com uma telemensagem, seja com um telegrama ao vivo.


 








A questão, porém, é que esta capacidade da economia de mercado em transformar tudo em mercadoria transforma a nós mesmos, os seres humanos, em mercadorias.

Considere o exemplo da malharia que propomos quando falamos da propriedade privada. Na ocasião consideramos uma empresa que tinha um proprietário e dez trabalhadores.

O proprietário atende suas necessidades via mercado oferecendo um produto, malhas. Os trabalhadores, entretanto, só têm a oferecer ao mercado a sua força de trabalho. Por isso se diz que existe um mercado de trabalho no qual se compra e vende força de trabalho, capacidade de trabalho, habilidades profissionais.

Raciocinando com nossa malharia hipotética podemos considerar que dos 10 trabalhadores empregados um deles seja designe e outro dos dez seja um zelador. Você pode imaginar que estes dois trabalhadores oferecem habilidades diferentes e por isso eles são mercadorias diferentes. Isto quer dizer que eles, suas habilidades, tem valores diferentes, são premiados com salários diferentes, e muito provavelmente esta diferença será bastante considerável.

Em conseqüência disso estes dois trabalhadores terão capacidades também diferentes de atender suas necessidades quando se apresentarem no mercado como compradores. Ou seja, há uma grande probabilidade de estes dois trabalhadores não se reencontrarem fora do trabalho. É razoável imaginar que eles morem em bairros diferentes, que usem hospitais diferentes, que seus filhos estudem em escolas diferentes, que usem roupas diferentes, etc.

Num mundo em que tudo pode se transformar em mercadoria isto é claramente um problema.

Você pode explicar o por quê?

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