sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Os três porquinhos: Durkheim




Vimos que Augusto Comte criou a palavra “sociologia”. Em sala vimos também que em função disso se dizia que Comte era o fundador da sociologia. As coisas não são exatamente assim. Embora tenha sua importância na história da disciplina, muito mais por conta da doutrina positivista do que em função de criar o nome da disciplina, Comte não é o responsável pelo início da sociologia moderna.





Primeira questão: o que é e o que não é a sociologia

A origem da moderna sociologia é atribuída a outro francês: Emile Durkheim. Para entender porque Durkheim recebeu esta honraria devemos nos perguntar qual a definição mais comum de sociologia? A resposta mais comum indica que se trata da ciência que estuda a sociedade.

Esta é uma resposta correta, porém não é uma resposta exata. Quer dizer, embora a sociologia efetivamente estude a sociedade ela não estuda exatamente a sociedade. Vejamos o que isto quer dizer.

Eu fico doente em sociedade, e também executo uma série de atividades econômicas em sociedade. Diante da definição mais comum de sociologia deveríamos aceitar que ela  também estudaria os processos de enfermidade e as atividades econômicas.

Todavia existem outras ciências que tratam com mais propriedade destes fenômenos. Então , como vamos separar o que é a sociologia do que é a economia ou a medicina (ou o direito, etc.)? Este é o grande legado de Durkheim. Sua obra ele definiu o que seria o objeto de estudo específico da sociologia.

Emile Durkheim (1858-1918)

Admite-se que a sociedade envolve um conjunto de fenômenos sociais. Porém a sociologia desenvolveria sua competência estudando apenas uma pequena quantidade destes fenômenos que seriam chamados de fatos sociais.

Os fatos sociais seriam um conjunto de fenômenos sociais identificados e separados dos demais porque apresentariam algumas características especiais.


Características dos fatos sociais

São três os elementos que definem se um fenômeno social é um fato social.

Em primeiro lugar o sociólogo deve buscar observar se se trata de um fenômeno geral. Um fato social tem como sua primeira característica o fato de que é praticado pela totalidade ou pela maioria dos indivíduos de um grupo.

Além de ser geral é necessário observar de onde surge aquele fenômeno, ou seja, se é um comportamento que indica uma escolha individual ou se é um fenômeno cujas origens e razão de existir se devem a sociedade. Isto por que, para Durkheim, os fatos sociais se distinguem também pelo fato de que são anteriores a existência do indivíduo. Sendo anterior ele também será exterior ao indivíduo. Isto quer dizer que a marca do fato social é sua origem coletiva, social.

Finalmente, os fatos sociais exercem um poder de coerção sobre o indivíduo. Os fatos sociais devem ser vistos como regras. Quando o indivíduo se afasta destas regras ele recebe uma pressão coletiva para que volte a se ajustar ao comportamento socialmente aprovado. Esta pressão é uma evidência do poder de coerção (de pressão) que a sociedade exerce sobre os indivíduos para que se submetam a regra geral.



Exemplo

O nosso vestuário pode ser usado para considerarmos como opera o fato social. Nos vestimos segundo padrões ou regras que são sociais, são fatos sociais.

Em primeiro lugar podemos reconhecer que a maioria das pessoas se veste segundo um padrão ou segundo um conjunto de padrões, de regras. Existem regras que determinam um padrão masculino e um padrão feminino, por exemplo.

Considere na imagem abaixo como a multidão que comparece a Rua Grande, em São Luís, revela claramente a adesão das pessoas a esta regra.

I

Além disso, o padrão de vestuário que adotamos em nossa sociedade não é obra de nenhum de nós individualmente. A escolha sobre o que é adequado vestir é determina pela sociedade, ainda que tenhamos alguma variedade. Ou seja, o vestuário apresenta a segunda característica do fato social, ele existe antes do indivíduo e é externo ao indivíduo. Esta é a razão por exemplo, de não nos vestirmos como o He man.


O fato social, porém é uma regra especial, trata-se sempre de um fenômenos moral. Considere por exemplo o tipo de reação que aquele rapaz acima, vestido de He man, iria despertar caso ele estudasse em sua escola e quisesse assistir aula usando aquela vestimenta.

Provavelmente iria despertar uma série de olhares atravessados e principalmente iria ser alvo de muitas risadas. Do ponto de vista da teoria dos fatos sociais estas reações são uma manifestação da sociedade diante de uma regra (um fato social) sendo quebrada. Devem ser entendidos como uma ação coercitiva (punitiva) da sociedade, uma coerção moral.

O ridículo é um recado indicando que o individuo rebelde assumiu uma atitude tão diferente das nossas regras (o fato social) que desperta uma reprovação moral na forma de risadas e olhares atravessados.

Não é demais repetir que o fato social é sempre moral, assim como a coerção que mobiliza quando é desobedecido. Mesmo quando se pune com violência, como no caso de alguém que é linchado porque cometeu um roubou ou um assassinato, ainda assim esta violência é principalmente moral.

Agora, para ter uma idéia de como funciona este poder de coerção do fato social vamos considera o seguinte.




Imagine que você em sua família uma senhora de certa idade, uns sessenta anos por exemplo. Considere que esta senhora de sua família vai sair para o supermercado ou para a feira comprar alguma coisa. para chegar ao ponto, imagine que ela vai sair para a rua usando a mesma roupa que a senhora abaixo está usando.



Sabendo que há um padrão social (um fato social) que determina as regras de vestimenta também segundo as idades e que a senhora acima está fuginda a este padrão, podemos esperar determinadas reações a atitude da senhora.

Entretanto considere a sua reação. O que você faria?




Provávelmente você iria se sentir atingido pela atitude desta senhora de sua família. Mas você iria se sentir atingido de uma maneira diferente das demais pessoas que estarão na feira ou no supermercado. Você vai se sentir, provavelmente, envergonhado – pois o fato social é sempre moral.

Talvez você venha mesmo a agir fisicamente para impedir a destemida senhora.

Este seu comportamento, mas principalmente a sensação de vergonha que você experimenta, são reflexo do poder de coerção dos fatos sociais.

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